Marta, a conquistadora

Entrevista de Paula Capela Martins in Jornal O Jogo de 13-04-2010
Há 12 anos que os recordes nacionais dos 50 e 100 metros costas não caíam. Maria Carlos Santos era detentora das melhores marcas desde 1998, mas no passado fim-de-semana, nos Nacionais, em Coimbra, Marta Marinho, de 19 anos, pôs fim ao reinado de Micá, estabelecendo novos tempos (1m03,45s, nos 100, e 29m40s, nos 50) e conquistou ainda nove medalhas (quatro individuais e cinco por equipas).

A atleta do FC Porto, estudante de Design de Comunicação no ESAD, teve ontem um dia de folga para saborear o êxito e dar as suas primeiras entrevistas. "Foi uma surpresa ver-me nos jornais. Fiquei envergonhada, porque gosto de ser discreta, mas, por um lado, é sinal de que os resultados aparecem e que cheguei a algum lado", reagiu a nadadora, admitindo que não estava à espera de um fim-de-semana assim: "Os 100 era algo que andava a pensar. Os 50 não foi programado, nem pensado. É uma prova curta e difícil de planear. Foi uma surpresa. A natação feminina em Portugal é mais fraca do que a masculina e essa já não é assim tão boa. Então é bom saber que bati recordes que tinham muitos anos. Não tem lógica haver recordes com 12 anos. Se for eu a batê-los, é bom. A Maria era muito mediática. E desde que ela saiu que o estilo costas passou uma fase adormecida, com pouca evolução. Sabe bem ver os recordes virem para mim."

Agora a nova recordista confessa as suas novas metas: "Há pouco tempo o meu objectivo era bater um recorde nacional. Esse caminho já mudou. Já o atingi e tive de redefinir objectivos. Neste momento, fazer mínimos para os Europeus de Budapeste é algo palpável e é para isso que vou treinar. Qualquer atleta aspira chegar aos Jogos e eu também tenho direito de sonhar. Se atingir mínimos europeus, porque não hei-de tentar os Jogos Olímpicos?" Enquanto outros atletas deixam Portugal para treinarem onde as condições lhes permitem progredir, Marta pondera: "Gosto do meu treinador e dos métodos dele. Dei um grande salto. Vamos explorar e depois logo se verá. Até terminar a licenciatura não quero sair do país. O mestrado pretendo fazê-lo fora, mas isso seria no ano depois dos Jogos".

"Nadarei enquanto tiver objectivos para cumprir"
Como na piscina, na faculdade Marta é aluna de boas notas. "Nado desde os três anos. Conciliar amigos, escola e treinos é algo que aprendi desde pequenina", explicou, aproveitando para sublinhar: "As notas na faculdade têm sido óptimas e os resultados na natação também. Sei que a natação não vai ser para sempre, por isso tenho de ter o meu curso. Nadarei enquanto tiver objectivos para cumprir." Com estatuto de alta competição, deixou um alerta: "Nos outros países as faculdades adaptam-se aos treinos. Aqui é o estudante/atleta que tem de se adaptar à faculdade. O estatuto ajuda, mas não na flexibilidade de horários, e apenas funciona nas faculdades estatais."