terça-feira, abril 22, 2014

Entrevista a Paulo Camacho

Entrevista in Diário de Noticia da Madeira de 25/03/2014
Paulo Camacho continua ligado à natação, ensinando agora os seus ‘segredos’

Campeão em várias distâncias, campeão disto ou daquilo, de facto a palavra campeão é de facto perfeitamente adequada quando falamos de Paulo Camacho, um autêntico ‘monstro’ da natação que continua ligado à modalidade, agora nas lides técnicas do Clube Naval do Funchal.

O DIÁRIO conversou com o fenómeno da natação madeirense. Um homem à frente do seu tempo.

Como é que se iniciou na modalidade?
Frequentava uma praia do Funchal, na Ponta Gorda, onde uma campeã de natação, Carmo de Sousa, que também a frequentava, aconselhou os meus pais a colocarem-me a fazer natação federada visto já nadar as quatro técnicas sem nunca ter aulas. E foi assim que entrei nas escolas de Verão do C.S. Marítimo no ano de 1979. Tinha 9 anos.

Mas porque escolheu esta e não outra modalidade?
Não foi uma questão de escolha. A natação é que me escolheu. Não tive hipótese: foi amor à primeira vista.

Lembra-se dos primeiros treinos. Foi difícil a integração?
Sim, lembro-me dos primeiros treinos na escola Francisco Franco, numa piscina de 16 metros, e a integração não foi difícil visto que entrei para as escolas de iniciação – Golfinho de Ouro.

O que considera ter sido determinante para o sucesso da sua carreira desportiva?
Esforço, dedicação, pontualidade, assiduidade e muita tolerância ao esforço físico e mental.

Nunca se saturou do treino constante, horas a fio, ano após ano?
Não. Os resultados sempre apareceram quando eu queria, o que me dava motivação para continuar. Mas também sim... por várias razões que não vou mencionar mais uma vez. As minhas desculpas.

As condições de trabalho e os apoios foram os adequados? 
Não. Mas era assim que as coisas funcionavam na altura e era assim nessas condições que eu tinha de continuar a treinar.

Ser campeão, internacional ou olímpico, foi objetivo de criança?
Não, as coisas foram acontecendo naturalmente sem muitas preocupações de ser campeão mas como treinava bem os resultados foram aparecendo.

Um passo para a glória
Qual foi o primeiro grande resultado obtido?
Os mínimos para os Campeonatos da Europa de Juniores na Alemanha, em Berlim em 1987. Não é um resultado qualquer visto ter sido o único madeirense até hoje a conseguir esse feito.

Foi esse o momento de maior alegria da sua carreira?
Não! Foi o primeiro de muitos bons momentos!

Que outros grandes momentos viveu?
Participação nos Jogos Olímpicos de Seoul 1988, Participação nos Campeonatos do Mundo (Austrália, Palma de Maiorca), Participação na Taça do Mundo (Viena, Barcelona), Campeonatos da Europa (Sheffield), Recordista Nacional por diversas ocasiões, enfim.

E pelo contrário, recorda fases menos boas? Quais?
Ter falhado o apuramento para os Jogos Olímpicos de Barcelona em 1992 (estava pré-selecionado para estes jogos) mas, por outro lado, ganhei uma mulher para o resto da vida! Visto ter abdicado dos treinos para namorar, coisa que nunca tinha tempo de fazer. Ter falhado os Jogos de 1996, outra vez fazendo parte da equipa que participou em Atlanta 1996, mas certos acontecimentos na minha vida impossibilitaram-me de continuar os meus treinos e assim ir aos jogos.

E agora, quais são os próximo projetos?
Profissionalmente, trabalho para que muito em breve a equipa do Clube Naval do Funchal tenha um atleta internacional. Julgo para um futuro próximo...

Ficou algum objetivo por concretizar?
Penso que não. Mas é claro que por vezes não consegui os meus objetivos visto que na natação a vitória e a derrota andam sempre lado a lado.

O que faz hoje?
Estou na área do treino de natação e faço parte da equipa técnica do Clube Naval do Funchal.

Ficou saudades e alguma nostalgia dos tempos de glória?
Sem querer parecer modesto julgo que não, tenho muitos aspetos na minha vida que me completam e não sinto a falta dos tais “tempos de glória”. Mas recordo com muita emoção os meus êxitos desportivos.

Para além de treinar e competir, o que mais aprecia(va) fazer?
No treino de alto rendimento na natação, os atletas fazem 11/12 sessões de treino por semana, isto dá 2 treinos por dia, às vezes 3, sem contar com o trabalho de ginásio. Quando não estava a treinar estava a dormir ou a comer. Nos poucos momentos de lazer que tinha lia, via filmes na televisão e ouvia musica.

A exigência da alta competição condicionou outras opções da sua vida pessoal, da sua formação ou da atividade profissional?
O meu tempo era limitado e por vezes era difícil de gerir o tempo, tendo em conta o facto de ser um adolescente na altura. Certamente se não tivesse a natação a minha vida seria completamente diferente! Não penso muito no que perdi, mas sim no que ganhei.

O que mais o impressionou nas viagens e competições que participou?
A diferença cultural e de costumes de cada sítio. As novas amizades, as recordações e os momentos únicos vividos.

Sente-se recompensado pelo esforço que desenvolveu?
Sim tenho muito orgulho nos meus êxitos desportivos. Tive sensações únicas que muito dificilmente vou sentir de novo. A natação ajudou-me a criar hábitos e hoje penso ser um ser-humano mais bem preparado para tentar sobreviver nesta ‘selva’ que é a vida dos nossos dias.


Não estaremos certamente a entrar no capítulo do exagero ao considerarmos que Paulo Camacho foi o maior e mais emblemático nadador que a Madeira alguma vez conheceu. Certamente o melhor nadador português da geração de 1970, o único nascido na Região Autónoma da Madeira campeão em todas as etapas: campeão regional, campeão nacional, Campeonato da Europa de Juniores, Campeonato da Europa Absoluto, Campeonato do Mundo de piscina curta, Campeonato do Mundo de piscina de 50 mts. e Jogos Olímpicos.

B.I.
NOME - Paulo António Castro Camacho
NATURALIDADE - São Pedro
DATA DE NASCIMENTO - 03/08/1970
ALTURA - 1,79
PESO - 80kg
CLUBE - Clube Naval do Funchal

CURRÍCULO descrito na primeira pessoa
Títulos internacionais: Alguns desde Youth multinations até a Taça Latina e alguns meetings internacionais que não consigo documentar nem me lembrar de todos.
Títulos nacionais: Ganhei as minhas primeiras medalhas em campeonatos nacionais em infantil e desde então era sempre ou quase sempre medalhado aquando das minhas participações.
Títulos regionais: Mais uma vez não consigo precisar quantos títulos regionais alcancei mas foram alguns...
Outros resultados/participações relevantes na carreira: Participei no Open dos Estados Unidos onde fui 1º suplente das meias-finais à frente de um atleta americano chamado Matt Biondi, que tinha perdido o título olímpico em 1988 dois anos antes por uma centésima de segundo. Já em França (Paris) numa tentativa de mínimos para os jogos de 1992 partilhei o pódio com um atleta francês (Esposito) que uns anos mais tarde foi recordista do Mundo em 200 Mariposa.

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1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Um grande abraço fizeste me reviver o passado e as boas recordações
Diogo e Miguel Madeira

terça-feira, abril 29, 2014 1:43:00 da tarde  

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