quarta-feira, agosto 08, 2012

Porquê os chineses? Por que não os portugueses?

Artigo de João Paulo Vilas-Boas* in Jornal Público de 6 de Agosto de 2012
Perante os resultados da participação nacional nestes Jogos Olímpicos, muitos se interrogarão por que razão são os chineses e não os portugueses que, agora e quase do nada, desafiam as potências olímpicas.

Logo os chineses, que foram trazidos para o mundo moderno exactamente pelos navegadores portugueses... Porque será? Porque será que Portugal não consegue ser uma potência desportiva, a não ser esporadicamente ou em nichos muito particulares? Será que é por sermos pouquinhos? Mais pequeninos? Mais ocidentais?

Não! Não é por sermos menos (quantos são os suíços, ou os holandeses e outros tantos?) e menos altos. Nem é por sermos muito ocidentais, já que de há muito se sabe que a Terra é redonda. Também não é por sermos brancos, pretos, amarelos ou vermelhos, porque somos uma mistura saudável, cega de cores.

Portugal não é uma potência desportiva porque não o é em nada! Porque não nos levamos a sério e muito raramente nos entregamos de alma e coração ao que temos por diante - eu diria: porque não temos cultura e educação desportivas! Talvez sejamos sobretudo bons a encontrar desculpas para não sermos tão bons assim.

Todos ficamos positivamente surpreendidos com o que tem de suportar o quotidiano de um campeão português, mas isso parece não chegar, por muito respeito que mereça. Tem, na maioria dos casos, de se suportar mais ainda e sem se ser pago principescamente. Tem de se aprender a lutar, a perder, a porfiar, a confiar, a esperar, a chorar... a desesperar e, até, a ganhar. E esta aprendizagem não é espontânea, tem de ser catalisada por uma educação capaz: uma educação em que o Estado e as famílias percebam o que é que é efectivamente crítico.

E é isso que nos falta: uma verdadeira educação, que inclua uma forte educação desportiva dos nossos jovens concidadãos (que os japoneses, por exemplo, têm por natural desde antanho). Para que aprendam a trabalhar duro, mesmo que para perder muitas vezes, mas de cabeça erguida, e a ganhar algumas sem soberba, respeitando o outro e a si próprio. É isso que o Estado tem de valorizar se quer mais cidadãos na elite mundial desportiva e nas muitas elites mundiais que não do desporto.

É esse o valor educativo do desporto! Foi esse o valor que alguém quis enaltecer com a modernidade (tardia) da Educação Física e o desporto escolar e foi esse valor que, aqui e ali, na escola e na família, foi comprometido pela tentação ("pós-modernista"?) dos facilitismos pedagogicistas então já fora de moda, disfarçados de uma quase séria "centração-no-aluno" e "protecção da criança".

É exactamente esse valor que o senhor ministro da Educação, ao invés de valorizar, quer agora arrumar de vez ao deixar "isso da ginástica" à consideração de cada escola e sem valor relevante na expressão final do empenho dos jovens. Não podemos querer modernizar-nos e, ao mesmo tempo, "aparolarmo-nos" com retrocessos destes! Temos é de corrigir desvios do esperado e continuar a lutar para que todas as famílias percebam que a educação desportiva dos filhos é muito mais do que o combate à obesidade; é a saga pela construção de homens a sério, já que a capacidade de dedicação, sofrimento, respeito e perseverança, necessários para se ser um ás, até na matemática, consegue-se também, ou sobretudo, pelo desporto! Que se invista na educação desportiva de forma séria e partilhada por todos e talvez possamos vir a ser "os chineses de amanhã", no desporto e também na matemática (se possível sem o que de pejorativo esta imagem possa comportar para os mais chauvinistas).

*Professor Catedrático de Biomecânica da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP). Doutorado em Ciências do Desporto na especialidade de Biomecânica do Desporto, pela Universidade do Porto, em 1993. Treinador Olímpico de Natação (2000 e 2004). Treinador de nadadores olímpicos. Vice-Presidente da Federação Portuguesa de Natação entre 2004 e 2008. Autor, ou editor científico, de vários livros, artigos científicos e técnicos, comunicações e conferências.

Etiquetas: ,

17 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Fantástico artigo! é pena que estes senhores ministros não pensem assim. Somos um país pequeno mas em tudo só menos nos deputados e nos políticos corruptos que só pensam em retirar tudo á toa sem pensarem.

quarta-feira, agosto 08, 2012 12:40:00 da tarde  
Anonymous Nuno Albuquerque said...

Austrália, Grã-Bretanha, Alemanha...tudo países cujos responsáveis das suas federações e/ou dos seus comités olímpicos nacionais já anunciaram que vão pedir relatório para apurar responsabilidades (!) aos maus resultados, criando uma reflexão séria e estrutural à sua modalidade. Faltam países como Itália, Espanha e PORTUGAL, FAZEREM O MESMO. Não é "fazer rolar cabeças", é pensar, reflectir, apurar de forma séria e isenta (quanto possível) o que se passou e passa há muitos anos (+ notícias em swimnews.com)

quarta-feira, agosto 08, 2012 3:15:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

não entendemos o que está certo e deixamos andar o que está mal. já nem se trata de o sabermos distinguir, porque: se não fazemos as coisas como deve ser, será porque somos mesmo maus ou porque somos simplesmente ignorantes! imagino se fossemos tantos como os chineses; eram mais os disparates! nós os atletas podiamos estar cheios de praticar sacrificios inuteis, mas não; e não somos incultos, vivemos de sonhos e de poucas ou nenhumas certezas, às vezes nem é por nós que nos empenhamos é pelo país, o mesmo país que diz que somos incultos. perdemos porque hesitamos e voltamos a perder porque ninguem consegue explicar porque hesitamos. há bastante diferença entre o estado e nós. crio, ás vezes, uma antipatia crua em relação às opiniões das pessoas. eu amo os meus sonhos mas não consigo tornar-me escravo de todas as madrugadas de inverno, desse ideal real de sofrimento. quantas vezes a chorar lá voltei aos treinos: sabia que era para ser melhor. iludido sentia não haver nada que me vencesse. eu sou muitos. só porque há alguém a dizer que talvez seja impossivél, que os outros são melhores e prontos,eu não serei nada? não penso, que só por termos descoberto os chineses, agora mais vale dedicar-me à pesca. pensem nisto: num país onde há ignorantes não nos torna a todos ignorantes, num país onde há liberdade não temos que ser, todos, como os japoneses. fico contente por ter feito alguma coisa mesmo sabendo que o que eu fiz não fará de nós um país melhor, contudo pensei fazê-lo bem, e se não fiquei mais culto, contraí, é certo, uma grande paixão pela actividade desportiva. não fui um campeão em tudo. muitas vezes terei perdido a noção de prazer e dor, ou a diferença entre ele e ela. acredito poder ir em frente. estou um pouco cansado sim, mas disposto a aceitar outros cansaços que o mundo do desporto me queira dar. sou dos que se querem multiplicar.

quarta-feira, agosto 08, 2012 4:11:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Quarta-feira, Agosto 08, 2012 4:11:00 p.m.

Grande comentário. Pena não se saber o autor....

quarta-feira, agosto 08, 2012 4:45:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Conversa e empirises estou eu farto.
Apresentem-me soluções praticas e se tiverem agregados custos indiquem de quanto sff.
Fico à espera...(sentado)

quarta-feira, agosto 08, 2012 6:51:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

***** para o artigo de JPV-Boas


***** para o comentario de > Quarta-feira, Agosto 08, 2012 4:11:00 p.m.
Só falta saber quem foi o autor (????)

quinta-feira, agosto 09, 2012 10:01:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Espanha??? Porquê? É certamente o país que mais cresceu a nivel desportivo dos ultimos 20anos! Tem atletas de alto nivel para todos os gostos!

quinta-feira, agosto 09, 2012 10:46:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Somos um país de dramáticos, tudo é um drama na vitória e na derrota...

Se na vitória podemos admitir alguns excessos na derrota devemos optar por alguma frieza e por alguma contenção, não vale a pena divagarmos em "ses" é necessário olhar para os factos com objectividade e tentar perceber quais os pontos a mudar nos próximos 4 anos.

Todos os nadadores Portugueses excepto um não conseguiram melhorar as suas marcas. Porquê?

Onde falhou a preparação?

Será que temos treinadores capazes de fazer avançar a modalidade em Portugal, ou será que precisamos de alguém que venha de fora para nos fazer evoluir, como aconteceu com a canoagem. Evoluir não só os atletas como os treinadores porque sinceramente parece-me que nos aspectos de treino ainda não estamos ao nível dos melhores.

Será que devemos continuar a apostar em regimes onde os atletas treinam a maior parte do tempo em clubes ou devemos passar para uma abordagem de alto rendimento onde os melhores atletas nacionais treinam e evoluem em conjunto, mais uma vez como na canoagem ou como no triatlo.

São só alguns pontos de discussão que penso que deviam ser levados a sério, ou então corremos o risco de fazer tudo igual nos próximos 4 anos.

quinta-feira, agosto 09, 2012 12:27:00 da tarde  
Anonymous Dr. House said...

Canoagem ==> Selecionador húngaro desde 2006.
Pois é vai fazer 6 anos.
Palavras dele após as medalhas: "é necessário pelo menos 200 dias de estágio por ano...". E explicou porquê, quem quiser saber pode procurar a entrevista.
E disse mais:...de início custou muito mudar as mentalidades..."

Venha alguém que perceba de natação e, essencialmente, de fazer campeões.

quinta-feira, agosto 09, 2012 6:18:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Este é o tipo de texto típico dos portugueses. Não diz nada de concreto, fala de banalidades, filosofias genéricas do comportamento humano, é feito com muita emoção, é feito de moralidade e de frases-feitas completamente ocas para se iniciar qualquer trabalho ou mudança concretas. É este tipo de contributos que tem sido a causa do atraso de Portugal.
Depois do desafabo não fica que não tenha já sido dito há cem anos. Ou não?

sábado, agosto 11, 2012 12:30:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

O que aconteceu na natação foi que andamos nos últimos meses a "correr" para barcelona, paris e outras paragens para fazer mínimos! como é óbvio, quem consegue mínimos assim, torna-se quase impossível cehgar aos JO em plena forma.

sábado, agosto 11, 2012 10:02:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Em Portugal temos uma filosofia que se chama o nacional porreirismo, todos têm que ter o seu quinhão. Claro que depois é dificil ter tipos fora de série, que escapam à mediania. Só indo para fora, cá, é preciso que todos os astros se alinhem, que tudo bata certo para se conseguir.

Uma pergunta, quantos funcionários a FPN tem sem estarem ligados directamente ao treino. Dirigentes, pessoal administrativo, motoristas, gajos porreiros, etc? Qual a percentagem dos ordenados que vai para nadadores e respectivo treinador relativamente ao bolo geral de ordenados? Do orçamento geral, qual a percentagem que é directamente investida a nadar?
Se alguém de novo vier para a natação, terá coragem de mudar estas percentagens? Ou terá uma ou outra ideia fantástica, mas nada de verdadeiramente importante se alterará?
Planeamento, sacrifício, investimento inteligente, know how, isso em Portugal é raro, e na natação idem

sábado, agosto 11, 2012 12:49:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

vamos lá fazer um barbecue de desporto (uma mista de varias modalidades)e fazer uns molhos especiais, relaxar sem formalismos e puxar pela imaginação; e aproveitar um pequeno momento para brincar com o fogo. É PRECISO GOSTAR DE PRATICAR DESPORTO. de fatinho e gravata não se fazem churrascos nem se pratica desporto. o que podemos esperar de politicos que não sabem nadar e nunca subiram numa arvore? nunca tentaram subir uma montanha ou fizeram torneios de judo nos atrios relvados das igrejas? quantos tentaram vencer o amigo mais forte em 5 voltas à escola a correr? temos dirigentes que nâo gostam de barbecue! nem sabem quantos lados tem uma bola, nem qual é estado fisico da água dentro duma piscina. que podemos esperar deles? bem! se houver um restaurante perto (michelinamente estrelado) talvez comam qualquer coisa.

segunda-feira, agosto 13, 2012 9:30:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Tudo certo, os outros é que estão mal . E quantos antigos nadadores foram ver os campeonatos nacionais de verão e open de Portugal?
Sem interesse por uma modalidade desportiva nunca essa modalidade vai evoluir e quando o desinteresse parte dos próprios praticantes é fácil dizer que os outros fazem tudo mal mas era bom começar também a olhar para o espelho.

segunda-feira, agosto 13, 2012 10:29:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Um dos grandes males de Portugal, e não só no que diz respeito ao desporto, é que vem gente a coberto de uma cátedra, muitas das vezes arranjada "à Relvas", dizer da sua justiça como se tivessem o dom da verdade absoluta, e não aceitam que muitas vezes as soluções dos problemas saem de pessoas muito menos diferenciadas e SEMPRE saem da discussão entre TODOS, cada um a dar o seu contributo.

terça-feira, agosto 14, 2012 8:58:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Bandeira Olímpica chega ao Brasil e marca o início da XXXI Olimpíada.

Neste país cheio de catedráticos e muitos pensadores, nesta data ainda a Federação Portuguesa não publicou o calendário competitivo nacional para a época de 2012-13, como é possível iniciar desde já a planificação para os jogos do Rio????

http://www.rio2016.org/

terça-feira, agosto 14, 2012 3:15:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Anónimo das 3:15

Planificação? mas então não é uma característica do povo português a improvisação? É que até é muito mais seguro para quem "dirige" a natação portuguesa não se fazer programação nenhuma e daqui a 4 anos voltarmos a dizer que os portugueses falharam completamente, tendo todos ficado vergonhosamente pelas eliminatórias porque são pequenos, porque o horário escolar é incompatível ( principalmente para aqueles que se arrastam nas faculdades sem nunca lá porem os pés ), porque os patrocínios não surgem , etc, etc, etc.

quarta-feira, agosto 15, 2012 4:27:00 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home