Morreu Eric Namesnik

O texto abaixo é de autoria de Daniel Kowalski, um dos grandes fundistas da história da natação australiana, triplo medalhista olímpico em 1996, sobre Eric Namesnik, nadador norte-americano de 36 anos que morreu esta 3ª feira vítima de um acidente automobilístico.

As demonstrações de emoção vistas pela comunidade aquática após a morte trágica de Eric Namesnik não me surpreendem – é isso que faz dessa comunidade tão especial, tão unida, e tenho muito orgulho de fazer parte dela.
Eu não conhecia Skik como muitos de vocês conhecem. Não tive o prazer de dividir uma pista no treino com ele ou chamá-lo de companheiro de treino ou técnico, mas tive um encontro com ele que nunca esqueci. E jamais esquecerei. Era – como eu descobri depois e percebi ainda mais hoje – simplesmente Eric sendo Eric.
Quando Mark Henderson (nadador olímpico dos Estados Unidos em 1996) me enviou um e-mail avisando do acidente de Snik, as emoções tomaram conta de mim. É uma daquelas situações que você nunca está preparado para enfrentar. Como muitos de vocês, estava comunicando com outras pessoas, ávido por melhores notícias, e foi quando me lembrei do meu primeiro encontro com ele e porque sempre o considerarei como um modelo a ser seguido.
Como um apaixonado pela natação, era impossível para mim não saber quem Eric Namesnik era. Lembro-me de vê-lo conquistar duas medalhas de prata nas provas de estilos no Campeonato Mundial de 1991 pela televisão, a mesma maneira pela qual o vi conseguir a prata nas Olimpíadas de 1992.
Era evidente para mim que ele era um lutador – um daqueles nadadores que, sem dúvida, trabalhava até o limite todos os dias e ia dormir seguro de que nada mais poderia ser tirado dele aquele dia. Era uma pessoa que eu realmente admirava por essa qualidade. Diabos, eu até imitei a maneira dele colocar os óculos após vê-lo pessoalmente no Campeonato Mundial de Roma em 1994.
Foi na Olimpíada de Atlanta que conheci Eric. Foi uma honra, mas o que realmente me marcou foi a naturalidade de nosso encontro e o papo que tivemos. Sem desrespeitar Tom Dolan, eu estava torcendo pelo australiano Matt Dunn e por Snik na final dos 400E. Gosto de torcer por quem não é favorito, e além disso Tom teria outras oportunidades. Aquela prova gerou muitas discussões. Lembro-me como se fosse ontem e lembro-me que me senti mal por Snik. Ele chegou tão perto... outra vez!
Terminei conquistando a medalha de prata nos 1500L na última noite de competições para juntar com dois bronzes que tinha conseguido na semana. Estava decepcionado. Meu sonho de uma vida inteira tinha acabado. Tentava disfarçar, fazer-me de durão, mas era difícil.
Apesar de não me lembrar exactamente onde eu estava no momento, lembro-me de sentir uma palmada no meu ombro. Virei-me e vi Eric. Antes mesmo de ter uma hipótese de dizer olá, ele prosseguiu falando que eu deveria estar orgulhoso dos meus feitos, manter minha cabeça erguida e nunca esquecer do que eu senti ao chegar em segundo lugar e usar aqueles sentimentos para me motivar para os quatro anos seguintes.
Apertei-lhe a mão, agradeci e disse o quanto o admirava. Conversamos um pouco e então seguimos caminhos distintos. Lembro-me de ter ficado muito emocionado com aquele acto extraordinário, tão gentil e honesto. Mesmo da última vez que o vi, em Irvine, Agosto passado, foi quase como se houvesse uma regra tácita: cabeça erguida, ter orgulho... Sempre terei, Snik!
Muitas vezes pensei naquela conversa nos anos seguintes e obviamente tenho pensado muito nela nos últimos dias. Na minha vida, fui afortunado em conhecer muitos grandes nadadores que são ainda maiores como pessoas. Eric Namesnik sempre estará no topo desta lista!