Artigo de Opinião de Paulo Costa sobre os Rankings Nacionais

Importância de um Ranking Nacional - in Site PORTINADO

No sentido de dar o meu contributo ao desenvolvimento da natação em Portugal, proponho-me a apresentar a minha reflexão sobre a modalidade, esperando que às ideias que irei apresentar, se juntem muitas outras de colegas de profissão que também pensam e sentem a natação de forma intensa e apaixonada.

A reflexão que proponho fazer agora resulta, fundamentalmente, da experiência que tenho retirado nestes últimos 8 anos enquanto treinador do Alexandre Agostinho, atleta a quem estou profundamente grato pelo enriquecimento que me proporcionou enquanto profissional da natação de alto rendimento e, sobretudo, por me ter ajudado a pensar hoje a natação de forma diferente.

Por outro lado, a oportunidade que me foi concedida nestes últimos 4 anos, de participar em congressos fora de Portugal, em diversas grandes competições internacionais (campeonatos da Europa e campeonatos do Mundo), bem como, em vários estágios fora do país, permitem-me hoje, identificar com alguma clareza alguns dos problemas que na minha óptica condicionam o desenvolvimento da natação em Portugal.

Não pretendo com isto iniciar qualquer tipo de confronto pessoal ou institucional, mas apenas, divulgar o que penso sobre a minha modalidade de eleição, esperando sempre, que seja um contributo válido para a mudança que espero venha a existir em Portugal no próximo ciclo Olímpico.

“O caminho que a natação portuguesa tem percorrido nos últimos anos, trouxe-nos aos resultados que conhecemos. Se não percorrermos caminhos diferentes, corremos também o risco de não encontrarmos resultados diferentes”.

Estou ciente que as ideias que irei apresentar, poderão colidir com os princípios de algumas pessoas mas, tenho por princípio na vida nunca deixar de dizer o que penso, desde que, esteja devidamente seguro da sua importância.

Quando, recentemente, publiquei um artigo de opinião sobre a formação de atletas, fi-lo fundamentalmente por estar convicto que a formação dos nadadores é, sem dúvida, um dos problemas de base que afetam a natação em Portugal e que impede uma adequada progressão dos mesmos até à excelência que todos queremos atingir.

Tenho que admitir que o facto de ter sido fundador da Portinado e vice presidente do clube desde a sua constituição, cargo que continuo a desempenhar, facilitaram muito o processo de implementação das ideias que tenho sobre a formação de atletas.

Enquanto diretor da Portinado nestes últimos 23 anos, procurei sempre “lutar” contra o princípio que rege a maioria das direções dos clubes de natação em Portugal, que é, quase sempre, os resultados.

Apesar das enormes resistências sentidas durante este percurso, tentei sempre que não fosse valorizado excessivamente o resultado, dentro do meu clube. Procurei, a toda a hora, desenvolver a ideia de que o importante seria concentrarmos os nossos recursos no processo de formação dos atletas e na procura da excelência desportiva.

Assim, todas as vitórias que a Portinado tem alcançado, quer sejam na natação pura, no polo aquático, ou anteriormente no triatlo, são motivo de grande orgulho e, corroboram com a cultura que procurei desenvolver desde os primeiros anos no clube.

Há alguns anos atrás, num congresso da APTN realizado em Portimão, entre uma plateia de treinadores e dirigentes que debatiam os problemas da natação em Portugal, lancei a ideia de ser introduzido em Portugal um sistema de ranking para a seleção dos nadadores aos campeonatos Nacionais de natação, em vez do atual sistema de TAC´s, que vigora desde há muitos anos.

Nessa altura, confesso, não dispunha de uma argumentação suficientemente sólida que permitisse explicar com alguma clareza as minhas ideias. Imediatamente fui confrontado com a palavra de autoridade de um treinador de referência nacional e um grande investigador científico da natação, de que isso era um puro disparate.

Disparate, porque no seu entender não seria possível de aplicar no terreno e, disparate, por desvirtuar o princípio fundamental da natação de competição, que é sobretudo o resultado. Nesse momento nada mais acrescentei ao assunto, porque não tinha argumentos que permitissem contrariar a palavra de autoridade desse treinador.

Quando, há alguns anos atrás, apresentei também aos responsáveis técnicos da FPN esta proposta, argumentando que a mesma serviria sobretudo para desviar o enfoque para as competências, em detrimento do resultado, fui de novo confrontado com pouca recetividade à ideia.

No entanto, quando comecei a participar em competições fora do país, apercebi-me que o modelo dos rankings era bastante utilizado, e que, numa primeira análise, só tinha a acrescentar valor ao processo desportivo. Senão vejamos:

- O ranking permite que as competições sejam organizadas segundo um plano previamente estabelecido (quanto ao seu tempo de duração e à própria estrutura de provas), nunca se correndo o risco de num ano termos atletas em número excessivo nos campeonatos, obrigando a jornadas intermináveis (como sucedeu em Alcobaça há anos atrás, que nem tempo houve para os atletas almoçarem), e noutros anos, devido a uma maior exigência nos TAC´s, termos atletas em número reduzido para uma competição tão importante.

Durante os últimos Nacionais de juniores e séniores realizados em Coimbra, tive o cuidado de contar o número de pistas vagas que existiram em toda a competição (a maioria das primeiras séries só teve 3 ou 4 nadadores).

Cheguei à surpreendente soma de 115 vagas em provas individuais sem, contudo, contabilizar as provas de estafetas, onde existiram também algumas pistas por completar.

Ou seja, poderíamos ter tido mais 115 participações na competição que não agravariam o tempo da mesma. A FPN teria mais encaixe financeiro resultante de mais inscrições e, os Nacionais teriam mais dignidade (pois todas as séries estariam devidamente preenchidas).

- Teríamos assim proporcionado a muitos outros nadadores a possibilidade de participarem nos Nacionais, pois alguns deles só foram a Coimbra nadar as estafetas.

Quantos nadadores não existem no país, que trabalharam de forma empenhada e determinada, mas que não conseguiram por diferentes razões efetuar os TAC´s por apenas algumas décimas, ficando fora da competição?

Quantos destes nadadores não sentiram uma enorme frustração por não estarem presentes nas competições Nacionais, que se desmotivarão e poderão abandonar precocemente a modalidade?

Quantos treinadores em Portugal não tiveram nadadores talentosos que ficaram de fora dos nacionais por tão pouco, mas que até apresentam competências técnicas muito mais desenvolvidas do que alguns que estiveram a competir?

Apenas os treinadores poderão entender a dificuldade em desenvolver estratégias que permitam continuar a manter esses atletas motivados e empenhados a trabalhar, que os convençam de que, dentro em breve, poderão ser melhores do que muitos nadadores que estiveram agora em competição.

- A existência de um ranking permitirá ainda aos nadadores acompanharem em cada momento (online), qual o seu posicionamento a nível Nacional e desta forma conhecer melhor a sua modalidade;

- O ranking permitirá também que os técnicos desenvolvam, de forma natural, objetivos individuais para cada nadador (como exemplo: melhorar a posição no ranking no seu escalão), partindo do seu atual nível de competências, em detrimento de procurarem um determinado resultado à custa, preferencialmente, dos resultados funcionais do treino;

Esta seria, na minha otica, uma forma diferente de pensar e abordar a natação, que levaria os nadadores jovens a pensarem e a focarem-se primeiro nas competências, como os requisitos que os poderão levar ao resultado e à excelência desportiva, e não no processo inverso.

Tenho consciência que não será apenas a implementação dos rankings, por si só, que resolverá todos os problemas da natação em Portugal. Existem muitos outros aspetos que são, tão, ou mais importantes do que a questão dos rankings.

Sei que existem muitas outras propostas pertinentes e inovadoras desenvolvidas por treinadores em Portugal, que gostaria que fossem também, amplamente discutidas junto da comunidade da natação Nacional. (continua brevemente)

Próximos assuntos a abordar:
- Escalões etários;
- Quadros competitivos;
- Plano de carreira;
- Plano de alta competição.

Paulo Costa – diretor técnico da Portinado