Diana Gomes: “Precisava de ganhar motivação” (completo)

Entrevista de Miguel Candeias in Jornal A Bola de 26/10/2010
Com dois Jogos Olímpicos no currículo e na difícil missão de conciliar treinos com estudos, aos 21 anos Diana Gomes necessitava de reencontrar a alegria de nadar ao mais alto nível. Conseguiu-o em Barcelona, onde frequenta o 3.º ano na Escola Tècnica Superior d'Arquitectura del Vallés e juntou-se ao poderoso Natació de Sant Andreu. Em Portugal continua no CN Amadora.

- Porquê esta aventura em Espanha, ou será que foi uma aposta para manter a carreira sem prejudicar os estudos?
- Primeiro foi uma aventura mas, rapidamente, tornou-se numa aposta. Foi a arquitectura que me levou para Barcelona no final de Agosto. O programa Erasmus abriu-me as portas para conciliar os treinos com os estudos e, entretanto, com a motivação que sinto a treinar, tudo se tem tornado numa aposta. Estou super feliz!
- O que tem sido diferente em termos de natação?
- As condições do clube, que já tem alguns anos. Nota-se que apostaram desde início em ter uma piscina olímpica, um grande ginásio... Ter condições antes mesmo de terem os atletas. Essa é a maior diferença. A nível de treino não posso dizer que seja melhor mas, no meu caso, está a ser óptimo mudar um pouco. Conhecer mais gente também nos faz bem. Somos muitos atletas, o grupo de raparigas tem muita gente da minha idade, o que ajuda a tornar as coisas mais motivantes. É uma equipa muito competitiva. No início avisaram-me logo que na água somos pessoas diferentes, mas fora somos amigas. E é verdade. Por vezes chateamo-nos a sério durante os treinos, porque alguém não nada mais rápido. Existe um ambiente diferente ao qual não estamos habituados. Não só no meu clube como no país. Mas quando acaba o treino essa picardia termina. No início isso deixou-me um bocado perturbada. Nem sabia como estar. Agora não. Para quem estava a precisar de uma motivação extra, fui parar ao sítio certo.
- Onde é que o Sant Andreu pretende chegar?
- Ao segundo lugar do nacional de clubes de Espanha. Têm ficado em terceiro nos femininos. Existe uma enorme rivalidade com o outro grande clube da Catalunha, o Natació Sabadell. Ambos sabem que não conseguem ganhar o título aos campeões, de Madrid, por isso a luta é acérrima. Quanto aos rapazes, querem continuar a vencer. Têm já seis títulos consecutivos.
- E é para nadar apenas provas de bruços?
- Os nacionais de clubes em Espanha são um pouco diferentes. As equipas podem apresentar dois nadadores na mesma prova. Em Portugal apenas um e podem-se fazer os Nacionais de clubes quase só com cinco atletas. Em Espanha tem de ser uma equipa mais completa. Por isso existe outra brucista, com a qual me estou sempre a picar nos treinos. Iremos partilhar as provas de 50, 100 e 200 bruços. Depois, dependendo dos resultados que obtiver, poderei ir aos 200 estilos. Está-me a assustar um bocadinho mas… vamos ver. Creio que o treinador está contente com a motivação que tenho demonstrado e já me falou em entrar no Circuito Catalão, em nacionais e em alcançar mínimos para as grandes provas internacionais. Dá-me ideia que já me vêem como elemento da equipa.
- E qual a aposta em termos portugueses? Manter-se na Selecção?
- Como referi antes, estava a precisar de mudar de ares e ganhar motivação. A perspectiva é regressar aos tempos que fiz e continuar a gostar do que estou a fazer. Mas claro que quero voltar à Selecção e alcançar mínimos. O próprio treinador em Espanha quis saber quais eram as marcas que teria de alcançar para trabalharmos para elas.
- O trabalho a ser feito terá em vista os Jogos Olímpicos de Londres-2012? Uma terceira presença em Jogos?
- Sem dúvida. No entanto, estar pela terceira vez nuns Jogos Olímpicos é uma ideia que, por vezes, me parece demasiado gigantesca. É verdade. Mesmo no início, não tinha na ideia chegar aos Jogos. Entretanto já fui a dois e ainda tenho aquele bichinho que nos segreda ao ouvido: vamos lá continuar e tentar mais uma vez…

«Os meus pais não vão gostar de ler isto…»
- Essa satisfação crescente dá desejo de estender a permanência por mais um ano?
- Acho que sim. Estou apaixonada pela vida que tenho em Barcelona. É mesmo isso que sinto. Estou feliz e integrada, gosto da faculdade e da convivência que tenho nos dois mundos: escolar e desportivo. Acho que os meus pais não vão gostar muito de ler isto mas, enfim… Mas, por enquanto, a realidade é aproveitar esta época. Até porque não posso fazer dois anos de Eramus.
- E como tem sido Barcelona?
- Estou a viver fora do centro para estar mais próxima da faculdade, que é em Sant Cugat. No início não me entendia muito bem com a cidade. Levei o carro e perdia-me constantemente. De dia ainda me orientava pela montanha, mas à noite… Acabei por comprar um GPS. Barcelona tem uma vida e pessoas diferentes e diversas do que estava habituada. A arquitectura é linda e cada vez vejo mais coisas que antes nem notava. Porém, entre treinos e aulas, não tenho tido muito tempo para andar a fazer turismo. As Ramblas? Fui uma vez, antes das aulas começarem. Mas hei-de voltar com mais calma…