quarta-feira, julho 21, 2010

Júlio Maglione: “Futuro em Xangai-2011”

Entrevista de Miguel Candeias in Jornal A Bola de 06-07-2010
Júlio Maglione, presidente da FINA, esteve no aniversário da federação portuguesa e falou com A Bola. Decisão da mudança de fatos foi a correcta. Estrelas da natação mundial vão continuar a atrair público às piscinas.

Há quase um ano, durante o frenético XIII Campeonato do Mundo de natação de Roma onde em apenas oito dias caíram 43 (!) recordes mundiais, realizou-se 24.º Congresso Geral da Federação Internacional de Natação (FINA), que alterou o caminho que a modalidade percorria desde há ano e meio.

Por larga maioria ficou decidido que, a partir de 1 de Janeiro de 2010, os polémicos fatos de banho de poliuretano, chamados por muitos de voadores, seriam proibidos. No dia seguinte o uruguaio Júlio Maglione foi eleito presidente do organismo que gere a natação mundial e foi sobre os seus ombros que caiu a responsabilidade de enfrentar os novos desafios sem ajuda da borracha e dos sucessivos feitos que esta proporcionou na mais importante disciplina da FINA.

Júlio Maglione esteve em Portugal para participar na Assembleia Geral da Confederação Mediterrânica de Natação e marcou presença na V Taça do Mundo de Maratonas Aquáticas de Setúbal assim como na Gala dos 80 anos da Federação Portuguesa de Natação. Quisemos saber como vê estes seis meses de regresso ao simples fato de tecido. De uma coisa o sul-americano não tem dúvida: a decisão foi a correcta. Porém, quanto à ausência de recordes e a possibilidade de assim poder continuar por mais algum tempo face aos 255 que havia caíram num período de dois anos, Maglione mostrou-se sempre cauteloso. Mostrou preferir esperar para ver o que acontece nos próximos grandes eventos internacionais, sobretudo no Mundial de Xangai-11, em piscina longa, o qual considera, tal como aconteceu na capital italiana, que irá ser de ruptura.

Sistema mais democrático
«Estou contente com a decisão das federações. Penso que estamos a ir pelo bom caminho. Os actuais fatos de banho são os mais adequados e trata-se de um sistema muito mais democrático para todos», começou por afirmar Júlio Maglione ainda sorridente devido a nova vitória do Uruguai no Mundial de futebol da África do Sul. «O desporto tem essa maravilha que é o espectáculo de ver quem chega primeiro e mais rápido. Nessa medida, a visão em que um atleta, seja homem ou mulher, possa mostrar as capacidades físicas é também um valor para a sociedade pois as pessoas têm tendência a assumirem exemplos para vida. Assim o desporto, quer seja através da natação ou não, pode ajudá-los a escolherem os valores mais correctos ao mesmo tempo que é proporcionado um espectáculo. As duas coisas complementam-se. Digo isto porque considero as novas regras para os fatos de banho mais adequadas. Trouxeram maior justiça à competição e um sistema bastante mais democrático. Até porque já andávamos a falar de fatos que custavam 500/600 euros e só podiam ser usados algumas vezes, o que não era fácil para muitos nadadores.

Não só a nível internacional mas também em cada país. Não é isso que queríamos e não podíamos deixar que continuasse assim. Agora os preços foram reduzidos em mais de metade e para começar a nadar basta um fato de banho de 20/30 euros», salienta o presidente da FINA. «Claro que ainda existe a questão se os anteriores fatos permitiam maiores ou menores performances. Isso será respondido ao longo dos próximos meses e anos. Vamos ver como se irá passar...»

Patrocínios e audiências
Mas será que o esperado retrocesso dos melhores tempos pode provocar alguns danos a nível de patrocínios e quebra de audiências televisivas? «Quem sabe se os novos patrocínios não vêm dos próprios fabricantes dos novos fatos de banho», responde de imediato Maglione. «Afinal eles já cá estavam mesmo quando os fatos eram pequenos e há muitos exemplos de grandes estrelas que os utilizavam como é o caso do grande brucista japonês Sadahiko Nakajima e até mesmo de Michael Phelps, que antes apenas utilizavam calção. Como referi, esperemos para ver o que acontece».

A importância de Phelps
«Quando penso em todas as grandes figuras da natação lembro-me sempre que Mark Spitz e Michael Phelps terão sido os maiores. Figuras como estas são fundamentais, pois são elas que atraem o público e este gosta de vir ver as estrelas, seja no futebol, atletismo, ténis ou natação.

Num momento em que ainda não se sabe como irão ser as marcas, serão eles os responsáveis por fazer encher as piscinas. Talvez não tanto pelos recordes mas pelas suas capacidades para vencer. O Mundial de Xangai em2011 será momento determinante para a natação no que se trata ao período antes e após os fatos [de polierutano]», faz questão de realçar o líder da federação internacional. «Campeonato do Mundo de Roma em 2009, assim como os Jogos Olímpicos de Pequim 2008, foram dois momentos extraordinários por tudo aquilo que proporcionaram, que ao nível das marcas como do espectáculo. Por isso, considero que Xangai 2011 assinalará uma nova etapa para a natação.»

Mundial de 25m está garantido
O Dubai ganhou a corrida à organização do Mundial de piscina em 2010 e ao de longa em 2013.No entanto, os grandes problemas económicos daquele emirato e consequentes atrasos na construção das infra-estruturas para os eventos, sobretudo o de Dezembro próximo, levaram a FINA a lançar um ultimato no final de 2009. A própria família real assegurou as garantias necessárias e os depósitos em dinheiro na FINA e, apesar do Mundial de 2013 ter sido anulado, o de 25mpara daqui a cinco meses está garantido.

O Dubai deu-lhe algumas preocupações e fez-lhe perder um pouco mais de cabelo. «Algumas», responde Júlio Maglione entre curta gargalhada. «Mas a vida sem preocupações não é vida. Quando surgem problemas há que procurar soluções. É verdade que tivemos alguns problemas complicados no Dubai mas foram todos ultrapassados. O que posso garantir é que vamos ter uma piscina extraordinária para os campeonatos e que a organização será ainda melhor», disse.

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