terça-feira, novembro 30, 2010

Sara Oliveira arrasou no “Cariocão”

Texto por Miguel Candeias in Jornal A Bola de 09/11/2010
Internacional portuguesa ganhou campeonato estadual do rio de Janeiro pelo Fluminense. Bateu todos os recordes de mariposa da prova.

Quando, em Agosto, Sara Oliveira brilhou no Europeu de Budapeste, ao ser uma vez finalista e duas semifinalista em mariposa, com a obtenção de recordes nacionais em três ocasiões e igualando outro, as capacidades da nadadora do FC Porto voltaram a despertar atenções no Brasil onde, em 2006, viveu, estudou e disputou o Nacional absoluto, ganhando os 100 e 200 m mariposa. Em 2007 regressou para repetir o evento, triunfando nos 200 mariposa.

Havia agora a hipótese de competir uma vez mais nos Nacionais canarinhos pelo Esportes Clube Pinheiros (São Paulo), colectividade que há quatro anos a levou a regressar à modalidade após a ter abandonado desiludida e ao qual sente eterna gratidão. Mas, para sua tristeza, essa possibilidade gorou-se.

Porém, pouco depois surgiu a oportunidade de defender as cores do Fluminense no Campeonato Estadual Absoluto do Rio de Janeiro. Sara (24 anos) aceitou o desafio e arrasou no Cariocão, vencendo as três distâncias de mariposa com recorde dos campeonatos, ajudando a ganhar quatro estafetas e batendo o máximo sul-americano dos 4x50 estilos. Com um total de 314 pontos recebeu o Troféu Maior Eficiência do sector feminino e festejou no topo do pódio, com o Fluminense, a conquista do título carioca feminino e absoluto.

«Correu tudo muito bem», afirmou Sara satisfeita e já de regresso à rotina dos treinos junto dos colegas do FC Porto, onde prepara o Europeu de Eindhoven, no final do mês, e o Mundial do Dubai de Dezembro, ambos em piscina curta. «Foi uma competição muito difícil porque o hotel onde eu e uma húngara (semifinalista a costas no Europeu de Budapeste) também convidada estávamos ficava muito longe. Levantávamo-nos às seis da manhã e tínhamos de almoçar e de descansar na piscina. Só regressávamos às 21 horas. Foram cinco dias pesados mas, ao mesmo tempo, muito compensadores pelos resultados», acrescenta.

Apostada em repetir a experiência olímpica em Londres-12, Sara está agradecida ao seu treinador no FC Porto, José Silva, pela oportunidade e a forma como a compreende. «Sei que foi uma competição de menor nível relativamente ao que costumo nadar no Brasil, mas ajudou-me a avaliar o treino que tenho feito para 50 metros, sobretudo porque, até Dezembro, apenas deverei competir em piscina de 25 metros. Também foi bom porque me fez perceber a vontade do meu treinador em que fizesse esta viagem. Ele sabia que ficaria semana e meia sem treinar o plano que estava a fazer mas, por outro lado, que também era algo que me faria bem e ajudaria a regressar cheia de força. Ele conhece-me e sabe que gosto de estímulos para fazer uma temporada a 100 por cento. Viajar e competir estimula-me sempre», concluiu.

Respeito pelo Pinheiros
A única objecção que tinha para nadar pelo Fluminense era não defrontar o antigo clube. A ligação de Sara Oliveira ao Brasil é muito sentimental, pelo que significou o período em que viveu naquele país. «Acho que é por isso que fico sempre tão entusiasmada quando tenho oportunidade de competir ali. Até o meu treinador, José Silva, sente isso», conta sem rodeios.

Sara ainda estava no Europeu de Budapeste quando recebeu um email do Esporte Clube Pinheiros a dizer que haviam gostado dos resultados e se estaria interessada em competir no Nacional brasileiro. «Respondi que sim. O problema é que ia entrar de férias. Era importante saber quando desejavam que fosse e a que nível pois, como estaria parada algum tempo, não poderia apresentar-me como na Hungria e talvez tivesse de voltar aos treinos um pouco antes. Mas, pelo meio, houve os Pan-Americanos e as coisas foram sendo adiadas», conta.

A portista já colocara a ideia de lado até que um dia… «O meu treinador perguntou-me se ainda gostaria de ir ao Brasil. Os meus olhos arregalaram-se», recorda a rir. «A preocupação era que não tivesse de defrontar o Pinheiros, equipa que me era tanta força e motivação para regressar à natação. Mas como se tratava de um estadual no Rio de Janeiro e pelo Fluminense disse que sim. O desafio foi mais facilmente aceite para uma prova desse nível. Sabia que poderia superar as expectativas deles e as minhas. Acho que o consegui…»

Quando se passa do 80 ao 100
Apesar de não ter referências de nadadoras da sua idade, acha que nunca se treinou tanto e tão bem. A trabalhar para os Jogos de Londres-12 e assumidamente decidida a lá estar, neste momento Sara Oliveira, juntamente com Alexandre Agostinho (Portinado), são os únicos portugueses com mínimos para o Mundial de Xangai-11. Mas até ao final do ano terá ainda dois grandes eventos internacionais em piscina curta, separados por três semanas. Preparação que faz com um espírito como nunca sentira antes, como explica. «Depois de Budapeste, estes resultados no Brasil deram-me ainda mais ânimo para o Europeu de Eindhoven e o Mundial do Dubai. Quando tinha 16/17 anos falava com nadadoras dessa idade que nos mostravam o que é viver a natação e as motivações que existiam. Agora, aos 24, não tenho essas referências. Como era a atitude delas perante a modalidade e a vontade que tinham para treinar todos os dias.

Engraçado é que hoje sinto que treino com mais seriedade e vontade do que fazia anteriormente e sem deixar de ter paixão pela natação. Tudo é novo, porque sempre fui mais de fazer as coisas a 80 por cento e pensar que assim chegava. Agora treino melhor que nunca. Só quero ver os resultados desta mudança. Em princípio, penso que o meu treinador apontará mais para os Mundiais do Dubai. Serão os meus segundos Campeonatos do Mundo em piscina curta, após Manchester-08, onde fui nona nos 100 m mariposa e bati dois recordes. Vai ser um mês de Dezembro em cheio, pois também há os Nacionais individuais e de clubes em 25 m. Já os Europeus na Holanda são aquela competição que, não sei porquê, não assusta e até me dá gozo ir para fazer bons resultados.»

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