segunda-feira, março 14, 2011

Alexandre Agostinho com os olhos em Londres

Entrevista in Portinado On-Line
Principais resultados nacionais e internacionais: Campeão Nacional 50 e 100 Livres (piscina curta e longa); Recordista Nacional 50 e 100 Livres (piscina curta e longa); Finalista do Campeonato da Europa Piscina Curta Istambul 2009; Semi-Finalista do Campeonato Europeu de Piscina Curta 50 Livres Istambul 2009, Rijeka 2008; Semi-Finalista do Campeonato Europeu de Piscina Longa Budapeste 2010.

Melhores marcas pessoais: curta 50L 21.64 & 100L 47.64 / longa 50L 22.36 & 100L 49.50
Nº internacionalizações: 21
Início da prática desportiva de competição: 8 anos
Habilitações académicas: Licenciado em Fisioterapia
Idade: 24 / Altura: 1,89m / Peso: 77 Kg
Treinador: Paulo Costa

1. O que representa para ti seres o nadador português mais rápido de sempre e o único que conseguiu chegar a uma final europeia na prova rainha?
Se me tivessem dito isso há 5 ou 6 anos atrás, não sei se acreditaria. Mas para dizer a verdade, neste momento, não é algo que me deixe deslumbrado. Claro que tenho orgulho em o ser, mas acredito que é apenas o primeiro passo para algo maior.
2. Como tem corrido a tua época desportiva?
Esta época tem sido relativamente calma. Nos últimos anos tenho tido vários problemas com lesões, doenças, que não me têm deixado ter uma época “perfeita”. Este ano tenho conseguido manter os ombros estáveis, o que me ajuda bastante a manter um bom nível de treino com regularidade.
3. Na tua já longa carreira desportiva, qual o momento que mais te marcou?
Penso que todos os momentos, bons e maus, deixaram uma marca positiva e ajudaram a construir-me e a evoluir como atleta. Mas se calhar o meu primeiro recorde nacional batido terá sido o momento que mais me marcou até hoje.
4. Tendo em conta que não fostes um nadador jovem de grande nível, o que pensas que foi decisivo para conseguires chegar ao patamar que te encontras hoje?
Acima de tudo persistência e dedicação. Por duas ocasiões pensei em desistir da natação, mas houve sempre vontade em provar a mim mesmo que era capaz de conseguir aquilo que queria. Não me considero uma pessoa com talento inato para a natação, mas compensei isso com a enorme dedicação e esforço que tenho pelo desporto.
5. Como é que encaras as grandes competições? Que estratégias utilizas para conseguir manter a calma naqueles momentos de grande tensão?
Por vezes é complicado manter a calma. Há uma enorme tensão e ansiedade nos minutos que antecedem a prova, apesar de ser algo que não me afecta muito. Tento usar o nervosismo e a adrenalina de forma positiva. Tenho uma rotina estabelecida, desde que chego à piscina para o aquecimento até ao momento que subo para o bloco, que me ajuda a manter a calma necessária.
6. Pensas que o facto de estares acompanhado pelo teu treinador nas grandes competições, faz alguma diferença?
Claro. Para mim todos os atletas deviam ser acompanhados pelos seus treinadores nas grandes competições. São eles que estão connosco o ano todo, que sabem como devemos nadar tecnicamente e tacticamente, que nos dão as ultimas palavras antes da prova, que sabem se devem mudar algo no planeamento de treinos. As últimas 2 semanas antes de uma grande competição são de extrema importância. Não servem só para descansar, há muitos aspectos técnicos a serem trabalhados e afinados, e só eles é que nos conhecem suficientemente bem para o fazer.
7. Que balanço fazes da tua participação nos europeus de piscina e nos mundiais no Dubai em Dezembro passado.
Quando acabei os campeonatos do mundo estava muito desiludido com a minha prestação. Mas quando voltei a Portugal, tive a oportunidade de parar para pensar um pouco melhor e apesar de todas a condicionantes que tive, posso concluir que não foram uns maus campeonatos. O facto de ter estado doente durante quase 2 semanas antes dos campeonatos e ter de feito as provas ainda algo doente, não eram as condições ideais para conseguir os resultados que queria. Os europeus de piscina curta este ano serviram mais para ganhar rodagem competitiva e preparar o campeonato do mundo.
8. Sei que estiveste há algumas semanas no Funchal a realizar um estágio da FPN. Como correram os 10 dias de treinos?
Correram muito bem. O facto de ter tido o meu treinador a orientar os meus treinos e do grupo dos velocistas durante o estágio, realizar o meu planeamento normal, bem como ter os meus “rivais” a treinar comigo, foi excelente. Em todos os treinos havia competição entre nós e isso é extremamente motivante e essencial para uma evolução mais rápida.
9. Achas que a questão dos fatos de “borracha” é já uma questão ultrapassada?
Desde o momento em que foram banidos são uma questão ultrapassada. Não podemos viver no passado e estar sempre a desculpar-nos com os fatos. Acredito que este ano conseguirei bater os meus recordes.
10. Quais são os teus principais objectivos para os próximos meses? E para o final desta época?
Dia 1 de Março começa a ser possível realizar mínimos para os Jogos Olímpicos, pelo que irei tentar aproximar-me ou quem sabe fazer já o mínimo nos Campeonatos Nacionais ou no Open da Holanda em Abril. Mas o ponto alto da época é sem duvida o Campeonato do Mundo de piscina longa em Shangai, para o qual tenho objectivos ambiciosos. Não irei revelar o meu objectivo em concreto. Esse está bem guardado na minha cabeça e do meu treinador, e afixado junto à minha cama.
11. Que opinião tens sobre as novas regras de apuramento para os jogos olímpicos de Londres?
Os mínimos A são bastante exigentes e o método de escolha através de pontuação a meu ver é um pouco injusto, porque há provas que pontuam mais que outras. Mas sinceramente não tenho que pensar nisso. Tenho que exclusivamente realizar o mínimo pedido, a minha opinião ou a dos outros são coisas que não interessam, nem me vão ajudar a realizar o mínimo.
12. O que pensas do panorama da natação nacional?
Penso que a natação nacional está mais homogénea. Finalmente temos um grupo maior de atletas mais velhos, o que há uns anos atrás não acontecia, e isso é essencial para a evolução da natação nacional. Mesmo a nível de resultados internacionais penso que estamos mais consistentes que no passado, isto é, não são só um ou dois nadadores que conseguem meias-finais e finais, mas sim quase a totalidade da comitiva. Acredito que dentro de em breve a natação nacional dará um salto para um nível superior de resultados.
13. Achas que nos últimos anos alguma coisa mudou na natação em Portugal?
Como disse anteriormente, há um maior numero de nadadores mais velhos do que no passado. Também penso que agora haja uma atitude mais “profissional” por parte dos nadadores em relação à natação, apesar de não ter muito conhecimento de como eram as coisas há 10 anos atrás, mas é a ideia que tenho. Têm sido mudanças lentas, mas ao menos têm acontecido.
14. O que julgas que falta para sermos mais competitivos a nível internacional?
A meu ver, o nosso atraso em relação às maiores potências da natação, não se devem exclusivamente às faltas de apoios, dificuldades em conciliar os estudos com os treinos/competições, apesar dessas razões também pesarem bastante para que não tenhamos uma evolução mais acentuada. Para mim o maior problema está na mentalidade das pessoas envolvidas na natação portuguesa (dirigentes, treinadores, atletas). Nesse aspecto acho que deveríamos ter uma mente mais aberta, mais receptiva a novas ideias. Devíamos realizar experiencias lá fora com as grandes potências da natação mundial, para aprendermos como potenciar a nossa natação a todos os níveis (gestão, metodologias de treino, formação, etc.). Eu e o meu treinador tivemos a oportunidade de poder trabalhar, durante alguns anos, com um treinador que esteve ligado à selecção da ex-URSS, e isso teve um enorme impacto na minha evolução. Muito do que sou hoje como atleta deve-se ao que aprendi e experienciei com ele.
15. Na tua opinião, quais são os principais aspectos que devem orientar um atleta para conseguir chegar a um nível de excelência?
Como refere na pergunta, um atleta tem que acima de tudo ser um ATLETA. Não basta saber nadar, tem que saber saltar, ter uma capacidade física e motora, força, mentalidade de atleta. Depois temos a técnica, que é primordial para se conseguirem bons resultados.
16. Em algum momento arrependes-te de ter feito uma aposta a 100% na natação?
Nunca. Nem consigo imaginar agora a minha vida sem ter a natação como parte dela.
17. Que dificuldades sentes na tua prática desportiva diária?
Sinto sobretudo na falta de infra-estruturas adequadas para treinar. Tenho quase a certeza que sou o único nadador que está no top 50 do ranking mundial que não treina regularmente em piscina de 50m. E isso depois reflecte-se em alguns aspectos da minha prova. Infelizmente é um aspecto a que já tive que me habituar, mas é triste e começo a ficar um pouco cansado de me darem palmadinhas nas costas e ouvir “tens todo o mérito em conseguir o que conseguiste treinando nas condições em que treinas”. É tudo muito bonito e fica bem dizer, mas isso não me dá uma medalha de ouro olímpica no fim.
18. Alguma vez arrependes-te de não ter optado por uma carreira lá fora, à semelhança do que fizeram alguns colegas teus?
Sim. Em relação à natação é das coisas que mais me arrependo de não ter feito, e que se pudesse voltar atrás, mudaria. Apesar de nunca ser tarde para tal e de ser bastante provável que isso aconteça, agora quero acabar este ciclo olímpico por cá e dar a honra ao meu treinador em ter tido um atleta olímpico.
19. Achas que o teu esforço e dedicação à natação é devidamente reconhecido e recompensado?
Sinceramente eu não nado para os outros ou para ganhar muito dinheiro. Se o quisesse tinha ido para o futebol. Mas se virmos o que sofremos, por exemplo, durante os treinos e os sacrifícios que fazemos, e depois o que ganhamos com isso, não, não somos recompensados e reconhecidos devidamente. Mas não é só a natação que sofre desse mal, a maior parte dos desportos, que não sejam o futebol, não são recompensados e reconhecidos como deviam ser. Muito pela enorme falta de cultura desportiva em Portugal.
20. Temos assistido recentemente a vários nadadores que marcaram a natação mundial a regressarem de novo às piscinas depois de alguns anos parados. O que pensas disso?
Acho que é bastante positivo para o desporto. O aumento da competitividade é sempre bem vinda, e apesar de ser incerto que voltem ao nível que tinham antes, é sempre bom, nem que seja para chamar a atenção dos media.
21. Até que idade pensas que poderás nadar ao mais alto nível?
A idade não é um problema para se nadar ao mais alto nível. Temos vários exemplos de nadadores com mais de 30 anos que ganham medalhas em Jogos Olímpicos, Campeonatos do Mundo e Europa. Continuarei a nadar enquanto sentir gozo e estar motivado para tal. Mas neste momento penso ter vontade para pelo menos mais um ciclo olímpico depois deste.
22. E no futuro, depois da natação, o que pensas fazer?
Para dizer a verdade ainda não pensei muito sobre isso. Como disse não penso em parar nos próximos 6 anos, por isso não consigo imaginar a minha vida para além da natação. Mas se calhar gostaria de continuar ligado à natação e ajudar ao desenvolvimento da modalidade em Portugal. Seja como técnico ou dirigente. Também já me passou pela cabeça em juntar-me a uma organização mundial e fazer voluntariado durante algum tempo em países mais necessitados. Não sei, quando sentir que chegou a altura para isso logo penso melhor.
23. Que mensagem gostarias de deixar aos jovens que estão agora a começar a sua carreira desportiva?
Que acima de tudo sejam persistentes e acreditem no seu valor. As coisas não caem do céu, dediquem-se, esforcem-se e acreditem que mais cedo ou mais tarde irão conseguir aquilo que desejam.
24. Gostarias de acrescentar mais algum aspecto relevante a esta entrevista?
Gostaria agradecer toda a gente que me tem apoiado ao longo da minha carreira, família, amigos, treinadores, clube, Federação Portuguesa de Natação, muito do sucesso que tenho tido é em grande parte deles também.

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8 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Vi, revi e voltei a ver mas não encontro um exemplo que justifique a resposta nº 12. Podem ajudar-me? é que o que eu encontro é a comitiva toda ficar pelas eliminatórias mas na resposta, por certo com mais informações do que as que eu tenho, é afirmado que a comitiva toda chega a semi-finais e finais. Podem dar-me um exemplo de campeonatos europeus, mundiais ou jogos olimpicos em que isso tenha acontecido?

segunda-feira, março 14, 2011 10:22:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Anonimo das 10:22. É isso que realças da entrevista?

Parabéns ao Alex, Parabéns ao Paulo, Parabéns a Portinado!

segunda-feira, março 14, 2011 11:25:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

graxaaaaaaaaaaaaaaa

segunda-feira, março 14, 2011 11:40:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Anonimo das 10:22
Salvo erro, no ultimo Campeonato de Europa em Budapeste, quase toda a comitiva chegou às meias-finais ou finais (menos a Marta Marinho). Portanto, a resposta do Alexandre não é nada estúpida!

segunda-feira, março 14, 2011 11:45:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Vi com atenção o link do BA para resultados dos CE,CM e JO e em Budapeste houve 21 participações portuguesas e só vejo 5 participações em meias-finais das quais uma deu acesso a final. houve ainda 2 classificações de estafetas nos 16 primeiros mas sem acesso a final nem a meia-final que não houve.
Provavelmente o que se vê no link do BA estará errado mas é o que eu vejo.

segunda-feira, março 14, 2011 12:35:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Se voces nadassem como falam eram todos campeoes olimpicos!!!

segunda-feira, março 14, 2011 4:10:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Parabéns ALEX, continua que nós estamos todos contigo. A natação precisa de exemplos e valores como o teu. Não ligues a vozes de burro que não chegam ao céu.

segunda-feira, março 14, 2011 9:57:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

que conversa !!haah
de qualquer modo desejo as melhores felicidades ao alexandre agostinho . Parece m ser um dos poucos portugues com estrutura corporal capaz de igualar os tubaroes que prai andam. diogos carvalhos e companhia por mais que se esforcem nao os vejo com tracagem para acompanhar os gigantes, apesar de todos terem igual ou mais talento

terça-feira, março 15, 2011 10:43:00 da manhã  

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