Reportagem e Entrevistas por Miguel Candeias in Jornal A Bola de 21/12/2010
Terminou o X Mundial de piscina curta com chuva de máximos da prova mas só dois recordes do Mundo. Registo da borracha mantêm-se firmes. Sara preferiu falar dos colegas.
Concluído o X Mundial de piscina curta, a Portugal faltou o gosto e justeza (se é que ela existe no desporto) de uma ou duas finais e outras tantas meias-finais, além da protagonizada por Sara Oliveira nos 100 mariposa. Diogo Carvalho, por duas ocasiões, e Duarte Mourão quedaram-se perto de serem finalistas ao alcançarem o 11.º lugar. Tudo em provas sem meias-finais.
No caso de Duarte, seis escassos centésimos separaram-no da luta pelas medalhas nos 200 mariposa, razão suficiente para frustrar quem nadara tão bem e três semanas antes fora 4.º no Europeu de Eindhoven.
Mas numa edição em que máximos dos campeonatos caíram uns atrás dos outros desde as eliminatórias, no que toca a recordes do Mundo apenas o americano Ryan Lochte (atleta de outro planeta) cometeu tal proeza nos 200 e 400 estilos. Isso demonstra que o fosso provocado pelos registos dos fatos voadores se mantém. O mesmo aconteceu aos portugueses. Carvalho, Mourão e Alexandre Agostinho obtiveram as melhores marcas de sempre... sem fatos de borracha.
Sara, que após voltar à natação em 2009 ainda viveu a fase final dos polémicos fatos, esteve sensacional ao fazer cair os máximos dos 50, 100 e 200 mariposa. Honesta no pensamento, a nadadora do FC Porto fala das boas classificações dos colegas que, por vezes, ficam injustamente na sombra dos seus recordes. «Este Mundial mostrou que estou no bom caminho. Quase todas as metas planeadas para esta altura da época foram cumpridas. Faltou apenas um 12.º lugar, mas ficámos perto, quer nos 100 como nos 200 mariposa. No entanto, foram batidos todos os recordes nacionais feitos com os fatos [de poliuretano]. Isso significa que quando se traçam objectivos e trabalhamos, eles acontecem», diz Sara.
Então, numa atitude humilde poucas vezes vista, continua. «Por vezes penso nesta situação toda em meu redor porque realmente os recordes foram superados mas, olhando com frieza para as coisas, os resultados dos rapazes continuam a ser melhores que os das raparigas. Por exemplo, neste Mundial, o Diogo foi 11.º por duas vezes e o Duarte outra. Apesar de ter batido os três recordes, não consegui uma classificação dessas. Por isso acho que não se devem ver as minhas marcas como as melhores. Até porque sempre disse que viria ao Dubai para lutar por posições. Pelas posições que tiveram o Diogo e o Duarte, não deixaram de ter feito uns grandes campeonatos e só com algum azar não chegaram às finais», diz a portista.
E a Sara em 11.º num Mundial, está para breve? «Estou a trabalhar para isso. Se os rapazes conseguem... eu também!»
Lançados aos recordes de borracha
Desta feita Diogo Carvalho não repetiu a proeza de ficar entre os oito melhores do Mundo.
Finalista dos 200 estilos em Manchester-2008, Diogo teve de se contentar em ser 11.º... nos 200 e 400 estilos. Em ambas, assim como nos 100 estilos, o nadador do Galitos de Aveiro fez as melhores marcas nacionais sem os fatos de borracha. Por isso diz convicto: «Foi um Mundial positivo. Os tempos foram bons nuns campeonatos bastantes competitivos. Mostrou que todos temos evoluído. A prová-lo basta comparar os registos até final de 2008, os últimos sem os fatos de poliuretano. Daqui a ano e meio/dois anos eu, o Duarte [Mourão] e o [Alexandre] Agostinho começaremos a bater os recordes de borracha.
No Dubai o Ryan Lochte deu o mote, mas ainda ninguém o conseguiu acompanhar. Ele e o Michael Phelps são de outra galáxia. Há os recordes deles e depois há os dos outros», salienta Carvalho que, neste Mundial, lamenta ainda «não ter tido acesso aos 200 mariposa.» A pergunta era fácil: Mas gostava de os ter nadado? «Não é uma questão de gostar ou não, mas de merecer. Sou recordista nacional dos 50, 100 e 200 metros e fiz um treino específico para vir cá disputar os 200 mariposa.
Mas, duas semanas antes, disseram-me que não podia. As duas vagas estavam ocupadas. Não estou contra os meus colegas [Duarte Mourão e Nuno Quintanilha] mas é uma prova que tenho disputado sempre nas grandes competições. Desde o meu primeiro Europeu de piscina curta, Debrecen-2007, onde fui finalista. Voltei a sê-lo em 2008 e 2009, além de, no ano passado, ter obtido o melhor ranking do mundo de um português. Não o merecia. Fiquei bastante triste depois da aposta pessoal que tenho feito na natação e pela selecção», finalizou sem mais adiantar.
Demonstração de consistênciaBom momento de Duarte Mourão confirmado pelo 11.º lugar neste Mundial.
«Foi um 11.º mas de uma forma muito boa. Fiquei a um segundo do melhor tempo das eliminatórias, ganhei ao campeão da Europa com quem perdera há três semanas... o balanço só pode ser satisfatório», comentou Duarte Mourão. E agora o que segue? «Estes resultados demonstram consistência.
Que o treino feito tem dado frutos e estou motivado sem deixar que a escola que quebre o interesse de competir a este nível, pois também não quero pôr de parte o final do curso [4.º ano de Medicina Dentária]. Quero terminá-lo. Quando as coisas correm bem é motivante. Agora o objectivo é qualificar-me para o Mundial de Xangai-11 em piscina longa. Desejo fazer mínimos o mais depressa possível. Os Nacionais serão em Rio Maior, uma boa piscina para treinar, mas que não dá grandes marcas. Talvez prefira apostar num Meeting numa piscina mais rápida.