Texto de Miguel Candeias in Jornal A Bola de 26-01-2010Depois de vencer rivais do estado do Kentucky e bicampeões de conferência, Pedro Oliveira (Louisville) acredita no título da Big East
Olímpico português totalmente adaptado aos 'States'

«Levaram uma tareia...», afirmou Pedro Oliveira um dia após, juntamente com o internacional português Carlos Almeida, ter ajudado a Universidade de Louisville (16.º do ranking nacional) a bater os rivais estaduais da Universidade do Kentucky (21.º) por esmagadores 181-119. Pedro espera que esta seja, finalmente, a época em que os Cardinals conquistem o título da Conferência Big East, campeonato que decorrerá daqui a um mês em Pittsburgh. A ajudar tal sentimento o facto de no fim-de-semana anterior Louisville também ter superado Notre Dome, por 166-135, que em 2009 se sagrou bicampeã, em Indianápolis, com dez pontos de vantagem sobre os Cardinals.
«Foi sensacional. Esteve lá o presidente da universidade e o treinador de basquetebol Rick Pitino, que nos deu uma palestra antes do meeting. Ele é espectacular», conta em tom vibrante Oliveira (22 anos) sobre a conversa de há dois dias com um dos mais conceituados técnicos universitários, actualmente em Louisville, e ex-treinador de Knicks e Celtics na NBA. «Sinceramente, penso que este ano temos mais hipóteses de sermos campeões. Perdemos nadadores bons mas passámos a ter maior profundidade. Na temporada anterior éramos vinte e poucos, agora somos 30 e com um nível médio superior», acrescenta o homem de Rio Maior.
Tendo emigrado há ano e meio com uma bolsa de estudo que lhe permite tirar medicina dentária, Oliveira garante estar totalmente adaptado aos States. «Tem sido tudo mais fácil. Já nada é novidade. Estamos habituados à rotina, à vida americana, sabemos quem são os nossos amigos, o que ajuda, e já estamos adaptados ao ensino daqui», conta o melhor português do Mundial de Roma-09, que foi 14.º nos 200 mariposa.
Quanto à natação... «Tenho a noção de que treino melhor e faço mais ginásio do que no ano passado. Nos treinos sinto a diferença desse trabalho. Neste momento, quer eu como o Carlos ainda estamos a fazer os meetings em carga. Somos 30 e apesar de levarmos 24 ao campeonato da Big East apenas 18 é que irão pontuar. A um mês da prova o treinador [o brasileiro Arthur Albiero] precisa de começar a decidir a equipa que irá levar, mas como estamos entre aqueles que de certeza irão, não necessitamos de começar a descansar já, como acontece com muitos.»
Aposta da época no Europeu de Budapeste
Pedro não está interessado em voltar a um Euro de piscina curta em detrimento da época nos EUAOliveira nunca escondeu que, face às suas características, não é fã de piscina curta. Por isso não é de estranhar que tenha apenas participado em dois dos últimos cinco Europeus de 25 m. Como nos Estados Unidos grande parte da época é em piscina de 25 jardas, perguntámos porque não havia ido ao Euro de Istambul, em Dezembro, após ter estado bem no Mundial de longa em Itália.
«A principal razão deveu-se à altura em que se realiza», começa por explicar. «Nesse momento aqui está-se num período intenso de treinos e ia tornar-se complicado. Não é só devido à bolsa de estudo que recebo da universidade. Para mim é mais importante ganhar o campeonato americano de equipas, do que ir ao Europeu de curta, o qual sempre foi e será uma prova de segunda linha. Sobretudo agora, não faz sentido viajar dos Estados Unidos para um Europeu de curta sem ir em forma. Se estivesse em Portugal seria diferente, mas não afasto a hipótese de voltar a um Euro enquanto estiver em Louisville. Dependerá do calendário», refere.
E o Mundial de curta, em Dezembro? «Ainda no outro dia falei disso com o Carlos [Almeida] e o treinador. Se acabar por não se disputar no Dubai e vier para uma das cidades americanas candidatas [Indianápolis e Las Vegas] quero lá estar. Caso contrário não, pois a situação é idêntica ao Europeu de curta. Entre nadar a final num Mundial de 25 m e ou ir ao Mundial de longa e ser semifinalista, em qualquer altura prefiro a segunda. É diferente, tal como acontece nos Mundiais de atletismo em pista coberta e ar livre.»
Além da Big East e dos nacionais da NCAA que se realizarão em Março na capital do Ohio, Columbus, esta época o principal objectivo para Oliveira é o Europeu de Budapeste, em Agosto. «Lá está, serão em 50 m, numa piscina de que tenho boas memórias», diz do local onde foi vice-campeão júnior do velho continente nos 200 costas, em 2006. «Especialmente agora, sem fatos de borracha, acaba-se o nadador mediano que passara a ser bom. Para mim era uma grande desvantagem pois nunca usei fato, apenas calças. Não sei o impacto que terá o desaparecimento dos fatos, mas será notado. Estou expectante», conclui.
No quadro de honra dos atletas
Nadador diz estar farto de ler asneiras em blogues portugueses que falam dele e Carlos AlmeidaNão se pense que é só dentro de água que Pedro Oliveira tem brilhado na Universidade de Louisville. Isto porque, devido às suas notas nos exames, o olímpico português entrou para o quadro de honra dos estudantes que são atletas das 14 modalidades existentes na universidade.
«É verdade. Acaba por ser engraçado e até temos direito a uma t-shirt especial por pertencer ao quadro de honra. Mas ainda nem sequer a fui levantar. Quem atinge essas médias tem o privilégio de participar numa cerimónia no estádio de futebol americano da universidade, em determinado encontro», o que apenas acontecerá quando a temporada da modalidade voltar a arrancar. A única coisa que deixa mesmo Pedro «aborrecido» é o que vai lendo em alguns blogues de natação em Portugal. «As pessoas não têm nenhuma noção do que aqui se treina e como as coisas são preparadas quando falam dos tempos que alcançamos. Fazemos muitas competições entre clubes enquanto estamos a adquirir forma. Depois, como aconteceu no último fim-de-semana, o torneio dura apenas uma hora e nela tive de disputar três provas, sem fatos, sem descanso, sem nos raparmos... Ninguém têm isso em consideração e acho que é ridículo ler algumas coisas, tanto sobre mim como do Carlos. Posso dizer que nenhum nadador em Portugal consegue nadar tão rápido como fazemos nos nossos eventos no mesmo plano de treino e carga em que nos encontramos. É uma situação que me aborrece um bocadinho.»
- Report BA sobre as vitórias de 2010 contra:
Cincinnati /
Notre Dame /
Kentucky